A Segunda Chance: “Reconectando-se com a Voz de Deus”
Eu jazia à beira da morte; minha existência deslizava para o abismo naquele dia fatídico. Meus olhos fitavam o próprio corpo imóvel, envolto por tubos, sobre a maca glacial da sala de emergência. Um silêncio pesado pairava no ar, interrompido apenas pelo som do monitor cardíaco, que agora permanecia silencioso. Os médicos, com semblantes sombrios, desligaram os aparelhos e, sem uma palavra, me cobriram como se eu já fosse um mero cadáver a ser levado dali. Não havia mais chance para mim.
Foi então que a cruel realidade me atingiu como um golpe devastador. Eu clamei a Deus com desespero, indagando por que havia sido condenado a essa sina. Gritei em busca de respostas, implorando pela salvação que nunca chegou. Onde estava Ele quando eu mais necessitava? Por que me deixou à deriva nesse oceano de desespero?
I
Então, um anjo surgiu e me conduziu. Cruzamos um véu dourado e chegamos a um parque, onde crianças brincavam despreocupadas em um gramado verdejante. Vi-me ali, solitário em um banco, lamentando a perda do emprego e culpando Deus por todos os problemas. Antes que eu pudesse reagir, o anjo me fez ficar em silêncio e apenas observar.
Enquanto eu me via, como se fosse um filme da minha vida, uma senhora idosa se aproximou. Vagamente, lembrei-me dela tentando falar comigo antes, mas a ignorei. Agora, pude ouvir suas palavras.
— Bom dia, jovem. Aceita fazer companhia a uma senhora idosa? — perguntou ela gentilmente.
— Não importa — respondi friamente, concentrado no celular, reclamando com um amigo.
— O que aconteceu, meu jovem? O que está te afligindo? — indagou ela com compaixão.
— Não quero falar sobre isso. Me deixe em paz! — reagi bruscamente.
— Desculpe-me. Talvez eu seja apenas uma velha intrometida, mas saiba que Deus está com você e te ama — disse ela.
— Ah, tanto faz se Ele me ama ou não — retruquei, levantando-me e saindo pisando firme. Senti-me um idiota naquele momento, percebendo que a senhora estava apenas preocupada comigo, e eu a afastei com minha raiva.
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Enquanto me via partir, a velhinha fechou os olhos e orou por mim. Ela não me conhecia, não sabia meu nome, mas pediu a Deus que me ajudasse.
Queria poder voltar e pedir desculpas àquela senhora. Ela não fez nada de errado, e eu a tratei mal.
II
Uma nova luz se abriu diante de mim, e o anjo a atravessou. Segui seus passos. Desta vez, estávamos em um mercado próximo ao meu prédio. Caminhei até a máquina de refrigerantes, peguei uma lata e um pacote de bolachas recheadas. Coloquei-os diante do atendente, que, com alguns anos a mais que eu, exibia um largo sorriso.
— Bom dia, tudo bem com o senhor? — ele cumprimentou-me.
Resmunguei e deixei dez reais no balcão, ignorando-o por completo.
— Você não parece bem. Quer conversar? Estou prestes a encerrar meu expediente e estou disponível — ofereceu ele.
— Por que eu iria querer falar com você? Cuide da sua vida e faça seu trabalho — respondi em voz alta, saindo da loja sem sequer pegar o troco. Ele me chamou, mas o ignorei.
Desapareci no meio da multidão na rua. Continuava observando o homem do balcão, agora identificado como Ismael. No entanto, ele parecia sinceramente preocupado comigo e fez uma prece silenciosa. Estranhamente, pude captar seus pensamentos. Ele implorava a Deus que me ajudasse a superar o que quer que estivesse me afligindo. Depois, separou o troco que seria meu e o guardou ao lado do caixa, talvez esperando que eu voltasse para buscá-lo.
III
Novamente, a porta de luz se abriu e o anjo atravessou em silêncio. Relutei em entrar naquela nova lembrança, ciente do que estava por vir, mas o anjo retornou e, sem proferir uma palavra, me puxou pela blusa, nos colocando em frente ao meu prédio.
Uma menina brincava de amarelinha na calçada, segurando um grande pirulito vermelho, rindo sozinha. Ao me ver, correu em minha direção.
— Tio, vamos brincar hoje. Eu estava te esperando — disse ela animada.
— Não, Ana. Não tive um bom dia — resmunguei.
— Por favorzinho, esperei tanto por você aqui fora — ela insistiu, fazendo bico e abraçando minhas pernas.
Nesse momento, uma raiva avassaladora me dominou, e eu arranquei o pirulito de sua mão, quebrando-o com violência no chão. Ana olhou para mim, assustada, e começou a chorar. Virei-me e subi os degraus em direção ao meu prédio. Foi então que senti uma pontada no coração e desmaiei ali mesmo. Minha sobrinha gritou por socorro, minha irmã desceu e chamou a emergência. Pouco tempo depois, a ambulância chegou para me resgatar. Vi o desespero nos rostos dos meus pais ao me verem sendo levado inconsciente.
IV
Uma nova porta se abriu, e retornamos ao hospital onde tudo começou. Tive um infarto e uma parada cardiorrespiratória. Aquela foi minha morte. Deixei a raiva dominar meu coração e me afundei em minhas frustrações. Quando achei que tudo havia acabado, uma luz ofuscante me envolveu, e uma voz poderosa sussurrou em meu ouvido. Era como o som do oceano, das ondas quebrando na praia, ecoando em minha alma, e ela disse:
“Meu filho, nunca o abandonei. Estive sempre ao seu lado. Quando pediu ajuda, enviei minha serva ao seu encontro, mas você a ignorou. Tentei falar contigo novamente através do meu servo, mas mais uma vez ignorou minha voz. Sua sobrinha, que tanto o ama e esperou por você, não compreende os dramas da vida adulta, e você não teve paciência com ela, afundando-se em seu próprio egoísmo e descontando em uma vida inocente. Reclama que o abandonei, mas nunca o fiz. Foi você quem não quis me ouvir.
Ainda lhe dou uma nova oportunidade. Não repita os mesmos erros. Não compreende meus planos; meus caminhos são melhores. Tudo o que faço é para o seu bem. Se perdeu o emprego, não foi para sofrer, mas porque sabia que permanecer ali o levaria à ruína. Eu o amo, meu filho, e só quero o melhor para você. Agora vá, não desperdice esta segunda chance que lhe dou. Viva!”
Um sopro de esperança invadiu aquela sala.
Uma nova Chance
Naquele instante, o rapaz despertou, encontrando-se no leito do hospital, respirando com a ajuda de aparelhos. Os médicos comemoravam sua recuperação, e ele ficou em dúvida se tudo aquilo tinha sido real ou apenas um sonho.
De qualquer forma, ele expressou sua gratidão a Deus pela vida que lhe fora concedida. Assim que se restabeleceu, voltou para casa.
Após sua completa recuperação, ele retornou à praça onde tinha encontrado a senhora anteriormente. Para sua alegria, a viu alimentando os pombos. Aproximou-se dela e pediu desculpas. Com um sorriso caloroso, a mulher aceitou suas desculpas, dizendo que não tinha importância. Ele também agradeceu pelas suas orações, e ela sorriu novamente para ele.
Em seguida, dirigiu-se à loja, entrou e foi direto ao caixa. Antes que o balconista pudesse dizer algo, ele se apressou em pedir desculpas pelo seu comportamento anterior. O homem sorriu e cruzou o balcão para abraçá-lo, dizendo que não havia problema, e lembrou-lhe do troco que devia. O rapaz recusou, mas o homem insistiu, e ele viu um pote de pirulitos grandes e vermelhos no balcão, pedindo dois, pagando a diferença.
Ao retornar para casa, depois daquele dia de novos recomeços, encontrou sua sobrinha brincando do lado de fora do prédio. Ela ficou séria no início, mas ao ver o largo sorriso do tio e os dois pirulitos que ele trazia, seu rosto se iluminou. Ela retribuiu o sorriso e correu para seus braços.
Ele aproveitou a sua segunda chance, aprendendo que as oportunidades podem ser perdidas, mas nunca é tarde para corrigir nossos erros e recomeçar.
Fim.
Notas do autor:
Esse rapaz foi agraciado com uma nova chance de reescrever seu dia, de agir corretamente e mudar suas atitudes em relação aos outros. Deus está sempre ao nosso lado, e sempre que precisamos de orientação, Ele envia seus mensageiros ao nosso encontro. Muitas vezes pensamos que Deus não está nos falando, mas a verdade é que não sabemos mais reconhecer Sua voz.
O infarto é uma ocorrência comum, especialmente nesta era em que vivemos, onde somos frequentemente assolados por sentimentos de ansiedade, depressão e similares. No entanto, como Sua palavra nos diz em Filipenses 4:7, “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. Que possamos buscar em Deus o descanso que precisamos e a chance de renovar nossa fé.
Esse rapaz teve uma grande oportunidade. Espero, caro leitor, que você não precise passar por tal experiência para aprender a ouvir a voz de Deus. Volte a se aproximar dEle e busque a sua nova chance.
Assim, o rapaz encontrou a alegria que faltava em seu espírito e nunca mais foi o mesmo desde então.
Que a paz esteja convosco, e nos encontraremos em outras histórias.
Atenciosamente,
Lucas Aquino
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